Lançamento do livro "Toledot Isaac - um judeu marroquino em Recife"
- Jefferson Linconn
- 27 de jan. de 2020
- 4 min de leitura
Na tarde do último domingo 26 de janeiro, na Sinagoga Israelita do Recife, bairro da Boa Vista, ocorreu o lançamento do livro "Toledot Isaac, um judeu marroquino em Recife" (coordenação editorial de Jucimar Morais, Jefferson Linconn e Nuno Brito).
O livro narra a trajetória de vida de Isaac Essoudry, um judeu de origem marroquina que ajudou a promover o ensino da Cabala e da cultura Sefardita em Pernambuco.
Foi um evento cultural que marcou o reencontro de muitos frequentadores da Sinagoga Martins Júnior, que tiveram a oportunidade de realizar conversas proveitosas, lembrando a trajetória de vida e os ensinamentos do querido Mestre Isaac Essoudry.
Os Judeus de Caruaru estiveram presentes e nos brindaram com o seguinte vídeo:
Descrição do livro:

"O livro descreve e contextualiza, através dos depoimentos dos seus alunos e familiares, o ambiente onde o judeu marroquino Isaac Essoudry desenvolveu o seu ensino de Torah, durante cerca de 40 anos no Recife, a partir das aulas por ele ofertadas nas sinagogas da Rua Martins Júnior e da Beit Shmuel.
Compõe a segunda parte desta mesma publicação, um conjunto de verbetes utilizados pelos depoentes, daí averiguados a partir das próprias considerações do sábio/Chacham Isaac Essoudry, tomando por referência a Torah, o livro do Zohar, o Talmud, mestres cabalistas e alguns autores como Baal Haturim, Maimônides, entre outros, através de observações à luz de alguns métodos da tradição judaica, como a aplicação de cálculos segundo a Guematria (a numerologia judaica)."
Texto escrito por Nuno Brito por ocasião do lançamento do livro:

Certamente muito teríamos o que dizer, positivamente, sobre Seu Isaac Zt’l. Muito teríamos sobre o que lembrar e um sem número de histórias a contar. Na verdade, cada um dos seus alunos aqui presentes teria um fato geral ou particular para trazer à luz: um provérbio, uma piada, uma curiosidade, um ensinamento.
E como um modo de honrá-lo, e já fazendo jus ao Talmud que nos diz termos a obrigação de honrar nossos professores, mesmo aquele que nos ensinou apenas uma palavra (e espero termos aprendido muito mais de nosso chacham), gostaria de compartilhar brevemente com vocês algumas considerações pessoais sobre a experiência do Talmud-Torá com Isaac Essoudry Zt’l.
Primeiramente, e julgo eu o mais relevante, é que era aberto a todos. Seu Isaac não inquiria quem sentava à mesa para estudar a Torá, durante as longas tardes de Shabat. Não lhe interessava sua origem social, seu credo, suas ideologias, seu gênero, sua cor. Certamente porque ele conhecia a premissa dos sábios que assinalava:
“A Torá não pertence aos cohanim (sacerdotes), nem pertence aos leviim (levitas), nem mesmo a Torá pertence aos israelitas. A Torá é da humanidade!
Seus portões estão abertos para receber qualquer nação virtuosa que guarde a verdade, e também a todos indivíduos que sejam bons e justos em seus corações”.
Por vezes éramos nós, em nossas necessidades de afirmações identitárias ou buscando sermos mais zelosos do que podíamos ser em nossas reais condições, quem colocávamos restrições a um ou a outro. Acertadas ou não, é algo a se discutir, o fato era que normalmente não contava com seu apoio.
Porém, se assentávamos à mesa tínhamos o vislumbre do que deveria ter sido estudar com os sábios do Marrocos, os cabalistas de Sefarad, os rabis da Mishná e Guemará, ou nas tendas dos Patriarcas.
O método era o mesmo: escavacar o texto sagrado, através das guematrias ou dos comentaristas (em especial, o Baal haTurim), a fim de encontrarmos o significado verdadeiro e profundo da Revelação D'vina, enquanto se buscava trazê-la à vida cotidiana. À realidade de hoje. Porque a Torá é viva, continua relevante e não está distante de nós. E não à toa, propositadamente, ele nos chocava ao provocar: “Isso hoje não se faz mais!”.
Para um iniciante, as matemáticas, as agadot, os midrashim e as interpelações do texto poderiam parecer confusas ou difíceis de compreender. Porém com o tempo, e com a diligente insistência em sentar-se à mesa a cada Shabat, o texto começava a se dar a conhecer a nós. E em toda sua doçura, perplexidade, consolo, e inquietação.
Para um acadêmico (dentre os vários que vieram escrever suas dissertações e teses a partir da observação de suas aulas), o método de Isaac Zt’l, talvez, parecesse tipicamente dialético: tese, antítese e síntese. Mas se efetivamente estudássemos para além das tarde de sábado saberíamos que se tratava do “pilpul” – conforme nos ensina o grande sábio e tradutor contemporâneo do Talmud, o rabino Adin Steinsaltz. E no que consiste o pilpul?
“O aspecto mais importante do pilpul (o modo de raciocínio dos talmudistas) é essa incapacidade de aceitar prova simples e aparentemente satisfatória,e a procura contínua de evidência que não se possa contraverter.”
Por último, o ensino do nosso “bom velhinho” era despretensioso. Ele também sabia que os sábios sabiam que o ensino da Torá precisa ser em linguagem simples, conciso, sem pedantismo ou interesses particulares e mesquinhos. Embora necessitasse também ser capaz de nós remexer as entranhas. De aprimorar nossas virtudes. E de promover a teshuvá em nossos atos e corações.
Certa vez li um midrash que dizia ser o olam habaá como uma grande mesa de estudos da Torá, onde podemos partilhar e debater com os nossos grandes sábios de todas as épocas. E por toda a eternidade. Acredito durante os Talmud-Torá com Seu Isaac pudemos experimentar um pouco dessa esperança. E não duvido que um dia o ouviremos novamente nas academias de Shem e dos Bnei Abraham.
Obrigado pela atenção.
Shalom lekulam!
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