A lição do navio Altalena
- Jefferson Linconn
- 10 de jun de 2020
- 2 min de leitura
Por Marcos Susskind
Hoje, dia 9 de junho de 2020, (dia 17 de Sivan 5780, estamos numa linda noite de lua cheia aqui em Israel.
Exatamente há 72 anos pelo calendário judaico, Israel sofreu o mais dramático confronto entre a Esquerda e a Direita judaica.
O Movimento Etzer, liderado por Menachem Begin havia comprado um navio, o Altalena e trazia armas para a guerra da independência. No entanto, alguns dias antes da chegada do Altalena, Israel determinou o desmantelamento das brigadas partidárias e a criação de um único Exército Nacional. Isto não incluía ainda a cidade de Jerusalém, onde a luta ainda estava no seu auge. Ben Gurion, que era o Primeiro Ministro, membro do Partido de Esquerda, exigiu que Begin que era membro da Direita, entregasse as suas armas ao recém criado Exército.
Begin aceitou entregar parte das armas, mas queria transferir a outra parte a seus comandados em Jerusalém, o que Ben Gurion não aceitou. Em função das divergências, Ben Gurion determinou que se abrisse fogo contra o Altalena. Muitos membros do Etzel, conhecido também como Irgun, foram mortos no navio e três soldados do recém criado Exército em defesa de Israel também vieram a falecer. Begin determinou que não se retornasse fogo do Altalena para evitar uma guerra civil.
É a página mais triste na briga entre ideias diferentes aqui em Israel e em toda história do nosso país.
Na cerimônia anual em memória dos mortos, que ocorreu hoje, o presidente do Israel, Reuven Rivlin, disse que a lição do Altalena é uma e única: é necessário permitir a exposição de ideias, permitir o debate, incentivar o debate, mas ao mesmo tempo é importante combater os que buscam o embate, o confronto. Fazer isso em todas as frentes, sem ter vergonha, oralmente e por escrito, em nossos status, em nossas postagens, nas redes sociais e nas ruas, obviamente tudo deve obedecer os limites da lei e da linguagem respeitosa. Argumentem, discutam posições, permitam-se uma atmosfera de discussão ainda que dura. Mas que não seja de forma nenhuma violenta.
Acredito que isso vale não só para Israel, mas isso vale para todos os lugares do mundo aonde infelizmente nós vemos crescentes conflitos humanos, como vimos na França com os jaquetas amarelas, como vimos nos Estados Unidos agora, recentemente, com as manifestações de negros enfrentando a polícia e como vimos também no Brasil entre a esquerda e a direita, entre partidários de uma e outra corrente, enfim.
Esta situação que Rivlin definiu aqui em Israel, infelizmente, ocorre muito mundo afora e precisaria ser parada.
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