O Judeu de Ramallah e o “Lechá Dodi"
- Jefferson Linconn
- 18 de fev. de 2020
- 5 min de leitura

Esta é uma história surpreendente!
Em um certo dia, após a oração de kabalat shabat, Dan rapidamente caminhou até a frente da Sinagoga, em Jerusalém, desejou Shabat shalom ao Rabino e direcionou-se à porta. Na saída, reparou um rapaz que parecia um pouco perdido. Dan aproximou-se do jovem, que carregava uma mochila, pele escura, cabelo preto encaracolado. “Parece Sefardita, talvez marroquino.”
Com a mão estendida, Dan cumprimentou-o: "Shabat Shalom!Meu nome é Dan Eisenbatt.Será que você gostaria de jantar na minha casa hoje à noite?” O jovem juntou a sua mochila e saíram da Sinagoga. Minutos depois,eles estavam todos de pé ao redor da mesa do Shabat de Dan. Assim que a família começou a cantar o “Shalom Alechem", Dan notou que seu convidado não estava cantando junto. Talvez ele seja tímido, ou não pode cantar, ele supôs. Mesmo depois de iniciada a refeição, o convidado tinha relaxado um pouco, mas ainda parecia um pouco inquieto e silencioso. Depois do primeiro prato, Dan percebeu seu convidado folheando seu livro de Zemirot (poemas de shabat), aparentemente procurando alguma coisa. Ele perguntou, com um sorriso: "Há alguma música que você queira cantar? Posso ajudá-lo, se você não tiver certeza sobre a melodia”. O rosto do convidado ficou iluminado. "Há uma musica que eu gostaria de cantar, mas não estou encontrando-a aqui. Eu realmente gostei do que cantamos na Sinagoga esta noite. Que era algo parecido com"Dodi".
Dan parou por um momento e chegou a pensar em dizer: "Não é geralmente cantada na mesa”, mas se conteve. "Se isso é que o rapaz quer" –pensou -"por que não?" Em voz alta, ele disse: “Dodi. Espere, deixe-me lhe dar um Sidur” (livro de rezas).
Uma vez que eles tinham cantado Lechá Dodi, o jovem novamente ficou em silêncio até depois da sopa, quando Dan perguntou-lhe: "Qual música agora?" O convidado parecia envergonhado, mas, sendo encorajado, disse com firmeza: "Eu realmente gostaria de cantar o Lechá Dodi novamente”.
Dan ficou surpreendido quando, após o frango, ele pediu ao seu hóspede nova musica e o jovem disse: “Lechá Dodi, por favor”. Dan quase deixou escapar: “Vamos cantar um pouco baixo desta vez; os vizinhos vão pensar que estou louco”. Quando o jovem pediu mais uma vez esta melodia, Dan não se conteve e sugeriu suavemente: "Você não quer cantar outra coisa?" Seu convidado corou e olhou para baixo. "Eu realmente só gosto desta", murmurou.
Ao todo, eles devem ter cantado a música oito ou nove vezes. Dan não tinha certeza, porque perdeu a conta. Mais tarde, num momento de silêncio, Dan perguntou: “De onde você é?" O menino parecia triste e, olhando para o chão, disse baixinho: "Ramallah”. O coração de Dan pulou. Ele tinha certeza de que tinha ouvido o menino dizer “Ramallah" (uma grande cidade árabe). Ele se conteve, pensando: “Provavelmente o rapaz deve ter dito Ramleh” (uma cidade Israelense). E disse: "Oh, eu tenho um primo lá. Sabe Efraim Warner? Ele vive na rua herzl”.
O jovem balançou a cabeça tristemente e disse: "Não há judeus em Ramallah..." Os pensamentos de Dan estavam correndo: “Ele acabou de passar o Shabat com um árabe?" “Desculpe-me - disse Dan – “eu estou um pouco confuso. E agora que penso nisso, eu nem perguntei o seu nome completo. Como você se chama, por favor?" O menino ficou aterrorizado por um momento, depois disse calmamente: "Machmud Ibn-Esh-Sharif”. Machumud, agora, estava olhando mais apavorado ainda; obviamente, ele podia imaginar o que Dan estava pensando. Apressadamente, disse-lhe: “Espere! Eu sou judeu. Estou apenas tentando descobrir aonde eu pertenço”. Dan ficou sem palavras.O que poderia dizer? O que estava acontecendo?
Machmud quebrou o silêncio hesitantemente: "...Eu nasci e cresci em Ramallah e fui ensinado a odiar judeus, e disseram-me que matá-los seria um ato de heroísmo. Mas eu sempre tive minhas dúvidas; nós fomos ensinados que o ‘Sunna’, a tradição, diz: ‘Nenhum de vós é um crente até que deseje para seu irmão aquilo que deseja para si mesmo’. Eu mesmo costumava me perguntar se seriam os yahud (judeus) pessoas também... será que eles não têm direito de viver, assim como nós? Se temos que ser bons com todos, como é que ninguém inclui os judeus nisso? Eu fiz estas perguntas para meu pai.ele me jogou para fora de casa, sem nada, e eu decidi que iria fugir e viver com os yahud, até que pudesse descobrir o que eles realmente eram”. Machmud continuou: "Eu entrei escondido em casa naquela noite para pegar minhas mochilas. Minha mãe me pegou em flagrante. Estava pálida e chateada, mas foi calma e suave comigo e depois de um tempo me fez falar. Contei a ela que queria viver com os judeus por um tempo e descobrir do que realmente gostam, e talvez me converter. ‘Você não tem que se converter, você já é um judeu’, disse ela. Fiquei chocado, minha cabeça começou a girar e, por um momento, eu não conseguia falar. Então, gaguejei: ‘O que você quer dizer?’ ‘No judaísmo - ela respondeu – “a religião vai de acordo com a mãe. Eu sou judia, o que significa que você é judeu’. Eu jamais tive a ideia de que minha mãe era judia, acho que ela não queria que ninguém soubesse. Ela com certeza não se sentia bem sobre sua vida, porque sussurrou, de repente: ‘Eu cometi um erro ao me casar com este homem árabe. Em ti, meu erro será redimido’.
Ela ficou remexendo alguns documentos antigos e me entregou um: 'Leve,é minha certidão de nascimento e carteira de identidade israelense; assim poderás provar que és judeu!’. Minha mãe hesitou, antes de me entregar outro papel. E disse: ‘Você também deve levar isso. É uma fotografia velha dos meus avós, que foi tirada próximo ao túmulo de algum antepassado nosso’.”
Dan, gentilmente, colocou a mão no ombro de Machmud. Machmud olhou para cima, assustado e esperançoso ao mesmo tempo. E Dan perguntou: "Você tem a foto consigo?” O rosto do menino ficou iluminado: "Claro! Eu sempre a carrego comigo”. E tirou de sua mochila um envelope velho, esfarrapado. Dan cautelosamente tirou a foto do envelope, pegou os óculos e olhou atentamente para a foto. A primeira coisa que reparou foi a família sefardita dos velhos tempos da virada do século. Em seguida, ele concentrou-se no túmulo ao redor do qual estava a família, em pé. Quando leu a lápide, quase deixou cair a foto. Esfregou os olhos para ter certeza. Não havia nenhuma dúvida. Era a sepultura no cemitério velho em Tzfat, e a inscrição identificava o túmulo do grande cabalista Tzaddik Rabbi Shlomo Alkabetz, o autor de Lechá Dodi.
A voz de Dan tremeu de emoção, quando explicou a Machmud quem foi seu antepassado: “Ele era amigo do Ariza L., um grande estudioso da Torá, um Tzadik. Além disso, Machmud, seu antepassado escreveu a música que cantamos a noite toda, a Lechá –Dodi!"
Machmud ficou sem palavras. Dan levantou-se lentamente e estendeu-lhe a mão trêmula, dizendo: “Bem-vindo ao lar, Machmud. Agora, que tal escolher um novo nome para você?”
Shalom!
Fonte:
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